Governo paga salário mensal a crianças com autismo — entenda quem tem direito e como solicitar

Por Geovane Viana

Pouca gente sabe, mas crianças diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) podem ter direito a um salário mínimo mensal, mesmo sem nunca terem contribuído com o INSS. Trata-se do Benefício de Prestação Continuada (BPC), previsto na Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), que garante apoio financeiro a pessoas com deficiência em situação de vulnerabilidade social.

Apesar de ser um direito assegurado por lei, o acesso a esse benefício ainda é cercado de desconhecimento, burocracia e desinformação. Muitas famílias deixam de buscar o BPC por acharem que só quem trabalhou tem direito, o que não é verdade.

Quem tem direito?

Para uma criança autista receber o BPC, é preciso cumprir três requisitos:

  1. Comprovar a deficiência – O autismo é reconhecido legalmente como deficiência pela Lei nº 12.764/2012. A criança deve passar por avaliação médica e social feita pelo INSS para atestar que a condição compromete sua participação plena e efetiva na sociedade.
  2. Comprovar baixa renda familiar – A renda por pessoa da família deve ser de até 1/4 do salário mínimo. Contudo, esse critério pode ser relativizado, conforme decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), quando houver outros fatores que indiquem vulnerabilidade, como gastos com remédios, terapias ou alimentação especial.
  3. Estar inscrito no CadÚnico – O Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal precisa estar atualizado para que o pedido seja aceito.

Como solicitar?

O pedido do BPC pode ser feito pelo site ou aplicativo “Meu INSS” ou diretamente em uma agência da Previdência Social. A família precisa apresentar documentos pessoais, laudos médicos, comprovante de renda e o número do NIS (Número de Identificação Social) do responsável.

Em caso de negativa, é possível apresentar recurso administrativo ou entrar com ação judicial. Há inúmeros casos em que famílias conseguiram reverter a decisão e garantir o benefício com o apoio de defensores públicos ou advogados especializados em direitos sociais.

Vitória da Conquista: ação recente amplia acesso ao BPC

Em abril de 2025, Vitória da Conquista, no interior da Bahia, tornou-se a primeira cidade a receber o projeto “Inclusão Nordeste”, uma iniciativa do INSS em parceria com a prefeitura local. A ação, realizada na Escola Municipal Antônia Cavalcanti da Silva, beneficiou cerca de 100 famílias com crianças neurodivergentes matriculadas na rede municipal de ensino.

Durante o evento, foram realizadas 50 perícias médicas e 70 avaliações sociais, etapas essenciais para a concessão do BPC. A prefeita Sheila Lemos destacou a importância da parceria: “É uma ação fundamental para que essas famílias tenham a condição de acessar os benefícios da Previdência Social, já que, se ficassem na lista de espera, poderiam ser atendidas só no final do ano.”

O superintendente regional do INSS no Nordeste, Caio Maia Figueiredo, elogiou a colaboração entre as instituições e espera que o sucesso da iniciativa no município se replique por todo o país. “Estamos atendendo mais de 100 crianças neurodivergentes, 100 famílias que estão aguardando pelo benefício para essa ação continuada, e a gente tem que olhar para essas pessoas com um olhar diferenciado.”

Um direito, não um favor

O BPC é uma política pública voltada a garantir um mínimo de dignidade às famílias que enfrentam, diariamente, os desafios de cuidar de crianças com deficiência. Reconhecer esse direito é também um passo para combater o capacitismo, a exclusão e a desinformação que ainda cercam o autismo no Brasil.

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